"Esta é uma poesia carnívora, desde a capa do livro, VERMELHO SANGUE.
Há nela uma energia letal carregada de proteínas e de um humor avesso a qualquer tipo de sentimentalismo. Não é por acaso que há um talho no título, o surpreendente título que anuncia estarmos perante algo como uma flor de plástico na montra de um talho.
Tudo isto é literatura (...) tudo o que não é literatura aborrece-me."
TSF, áudio completo aqui
Sinopse:
Subiu dez andares para assim nos poder olhar de frente. Não lhe interessa o que dizem os dissidentes da ditadura. Mas confessa que gostava dos chocolates Toblerone que a sua tia lhe trazia no Natal. Colecciona cabelos nas folhas de um herbário sentimental. Escreve a palavra vazio depois da palavra espera. É como a Salomé — dizem — pede cabeças mas só lhe entregam pizzas. Perdeu a fé num ataque de riso. Exige agora silêncio e um copo de tinto, enquanto apresenta em directo a autópsia da sua glória.
O texto com que abro este "post" já desvenda um pouco o que podemos esperar deste livro e recomendo que oiçam na integra o áudio porque ele nos mostra o livro muito melhor do que qualquer coisa que eu escreve aqui escreva.
Finalmente consegui ler um livro! O primeiro de 2017 e o meu primeiro de poesia.
Já aqui tinha falado sobre o desânimo em que a poesia me deixa. Eu gosto de ler, acho bonito e incrível como se diz tanto em tão poucas palavras, mas não entendo muitas das poesias que leio, não sou capaz de perceber a mensagem ou o que levou o autor a escrever aquelas palavras. Talvez essa seja a magia da poesia e o desafio faça parte deste género literário. Nem toda a gente está capacitada para a entender ou no momento certo.
Este livro já está aqui em casa há algum tempo e já tinha lido alguns poemas, mas na altura encolhi os ombros e voltei a colocá-lo na prateleira. Não percebi nem quis perceber, simplesmente desisti. Algo estranho até porque eu comprei o livro depois de uma entrevista que ouvi na Antena2 com a autora e naquele momento eu senti bastante afinidade com ela e com as suas palavras. Tal como esta peça da TSF, que mostro no início, entusiasma qualquer leitor.
Esta semana lá me decidi a tirá-lo de novo da estante e finalmente fui capaz de o ler.
Não foi um desafio assim tão grande até porque os poemas são curtos e o livro tem apenas 70p. Gostei bastante de alguns e outros como era de esperar não entendi, mas isso não me fez desistir do livro e tenho a certes que noutra altura regresso e talvez aí perceba aquelas palavras.
Partilho aqui alguns poemas e passagens que gostei.
"Leio-te e fico doente, outra vez.
(..)
Não se como funciona tudo isso,
mas olha o que me fazes com as tuas palavras."
Este livro já está aqui em casa há algum tempo e já tinha lido alguns poemas, mas na altura encolhi os ombros e voltei a colocá-lo na prateleira. Não percebi nem quis perceber, simplesmente desisti. Algo estranho até porque eu comprei o livro depois de uma entrevista que ouvi na Antena2 com a autora e naquele momento eu senti bastante afinidade com ela e com as suas palavras. Tal como esta peça da TSF, que mostro no início, entusiasma qualquer leitor.
Esta semana lá me decidi a tirá-lo de novo da estante e finalmente fui capaz de o ler.
Não foi um desafio assim tão grande até porque os poemas são curtos e o livro tem apenas 70p. Gostei bastante de alguns e outros como era de esperar não entendi, mas isso não me fez desistir do livro e tenho a certes que noutra altura regresso e talvez aí perceba aquelas palavras.
Partilho aqui alguns poemas e passagens que gostei.
"Leio-te e fico doente, outra vez.
(..)
Não se como funciona tudo isso,
mas olha o que me fazes com as tuas palavras."
“COMODISTA HESITANTE,
protegido das cabeleireiras
e cliente frequente dos feriados nacionais,
acredita nos encontros fortuitos
assim como um relógio estragado
acredita aproximar-se de uma hora astral.
Estes hábitos podem até ser tolerados
Em contos naturalistas
E reality showers.
Nós, aqui, little stranger,
Degolamos pardais e fadas de porcelana.
Cobramos interesses à alegria
E vendemos suites com piscina na lua.
A batalha é nossa,
Já alugámos as trincheiras,
Mas custa tanto tirar os pijamas.”
"A minha língua está a ganhar uma espessura lenhosa,
No lugar do grito,
uma greta.
Mãos nos bolsos,
bico calado.
Evito vitrinas e espelhos.
Tenho medo que a verdade
me possa desfigurar o rosto"
"ENCONTRADO NUM CONTENTOR DE RUA,
sem cavalo e sem reino,
o músico,
quase cego, quase surdo,
começa o seu turno,
ainda perseguido pela última garrafa de tinto.
É preciso saber ouvi-lo
como se ouve uma abelha
às voltas de uma ferida
adocicada pela peste.
Não gostas
mas já foste habituado a obedecer,
deixar que a roupa suja chupe o detergente todo
no alguidar.
Podias talvez esquecer, fugir, escapar.
mas já te treinaram longamente a ficar,
a ter medo,
e, sobretudo, a ter fé
quando uma verruga no nariz
é a única coisa à qual ainda te podes agarrar
antes de sucumbir
no sono."
"Cada dez segundos sai uma fornada de sentimentos novos.
o que, diga-se en passant,
não é nada de extraordinário,
pois cada um de nós tem uma fábrica caseira de sentido
e uma despensa onde guarda as certezas junto com as conservas."
"Golgona Anghel nasceu há 27 anos na Ilíria Oriental. Não se lhe conhecem estudos mas leu todos os livros escritos ao sul de Reykiavik. Tem medo de estar sozinha e pensa em voz alta. Gostava às vezes de ter o seu próprio Sul. Nos registos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras figura como Doutoranda em Literatura Portuguesa Contemporânea, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É recentemente procurada por tráfico de ilusões perdidas. Descansa cada vez menos. Escreve."
Atribuí 4 estrelas ao livro no goodreads pois apesar de não entender alguns poemas adorei a forma como ela escreve e a crueza das suas palavras.
É um livro frio apropriado a esta época e recomendo bastante a sua leitura.
Já alguém leu?
Ficaram com vontade?
Contem-me tudo e BOAS LEITURAS!!! ;)